ARTE
Obras artísticas produzidas durante a pandemia muitas vezes refletem o que as pessoas estão vivendo. Algumas estão expostas no museu sobre o coronavírus, criado recentemente. Créditos: Pixabay

Com o isolamento social causado pelo novo coronavírus, a internet se tornou a principal ferramenta de diálogo e entretenimento, e o consumo de produções artísticas ficou mais amplo. Entre diversas iniciativas, filmes e séries foram liberados na pandemia, juntamente com transmissões de orquestras, apresentações musicais ou mesmo releituras de clássicos da música especialmente para o ambiente virtual. Além disso, novas obras artísticas produzidas durante a pandemia têm, inclusive, refletido o impacto da nova doença no mundo. Até um museu dedicado ao coronavírus, com um acervo de obras virtuais sobre a pandemia, foi criado. A arte está tão envolvida com o estado mental das pessoas na pandemia, que alguns se inspiraram em reproduzir quadros de pintores famosos com detalhes notáveis e até cômicos.

Para a psicanalista Rosana Teresa Onocko Campos, da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, a pandemia tem proporcionado reflexões sobre a percepção da cultura e seu consumo. “Há uma parte grande da sociedade brasileira que não tem o hábito de consumir cultura porque não consegue. Porque é caro, porque a cultura nem sempre está ao acesso, não está disponível em todos os bairros. A grande questão é como vamos aproveitar esse momento. E também temos que entender que tem gente que não está consumindo cultura neste momento, não porque não gosta ou não sabe, mas simplesmente porque está em uma situação muito difícil para sobreviver”.

A pesquisadora aponta que é importante questionar não só o consumo cultural, mas o que é oferecido à sociedade. “Hoje se oferta como cultura, entre aspas, muitas coisas que não têm a função de cultura. Porque a cultura permite algo que chamamos de simbolizar: apreciar o que seja belo, que seja bonito, mas que ao mesmo tempo entra em contato com afetações sentimentais e emocionais das pessoas. Então, esse momento é uma chamada para também analisar que tipo de ensino cultural estamos oferecendo nas escolas, que tipo de estímulo estamos dando para as crianças pequenas aprenderem. Acho que existe um grande déficit sobre estimular a cultura no Brasil”, pontua.

Para o psicólogo e doutor em saúde coletiva da Unicamp, Bruno Emerich, a arte tem feito um papel de conexão na pandemia. “Estamos vivendo um momento de incertezas e inseguranças, em que muitas pessoas estão entrando em contato com dimensões da sua própria vida, da sua história e do seu próprio sofrimento, sem necessariamente ainda ter construído estratégias para lidar com isso. É algo bastante complexo, tem diferentes perspectivas mas, de certa forma, a cultura ou a conexão com algo artístico que faça sentido para a pessoa pode ajudar”. Além do impacto pessoal, a arte também é importante para o convívio em coletivo, detalha o especialista: “Podemos pensar na dimensão cultural como algo que aproxima, apesar da distância, e que conecta, apesar das diferenças. É uma forma de ampliar a compreensão e o sentimento desse momento para todo mundo”.

A psicanalista Rosana Teresa Onocko Campos reforça também que é importante cada pessoa compreender que a pandemia tem variados impactos. “Não se cobre para estar muito bem porque ninguém está muito bem. Aceitar que não está bem, às vezes, é o melhor que se pode fazer. Converse com alguém, ligue para um amigo ou para um parente, aproveite algum desses momentos de divulgação cultural, se permita estar um pouco mais calmo, com um ritmo um pouco mais lento, um pouco mais consigo mesmo. E não precisa se cobrar uma felicidade ou uma euforia. Não é um momento para estar eufórico e feliz”.

Leia a matéria completa publicada na revista ComCiência do Laboratório de Jornalismo da Unicamp