Níveis elevados de atividade física são associados com inúmeros benefícios à saúde, como por exemplo, melhora na saúde muscular, prevenção contra declínios cognitivos, redução nos níveis de depressão e ansiedade, além de ajudar na manutenção do peso corporal, além de seu papel na prevenção de inúmeras doenças crônicas. Apesar disso, atualmente temos a inatividade física como um quadro global, o que colabora com a epidemia mundial de obesidade. A recomendação para atividade física atualmente está entre 10.000 e 12.000 passos por dia para prevenir doenças como a diabetes tipo 2. Contudo, mais importante que olhar a média de um país, seria verificar a distribuição da atividade física na população, uma vez que o desequilíbrio de atividade física apresenta maior correlação com os níveis de obesidade que a média de atividade física. Nesse contexto, o exercício físico entra como uma ferramenta eficaz na prevenção e tratamento de doenças crônicas, por promover inúmeros benefícios como controle do peso, melhor no metabolismo de glicose e colesterol, fortalecimento do sistema imune, entre outros. Nas últimas duas décadas, o exercício físico vem se consolidando como primeira linha no tratamento de doenças metabólicas, com ênfase nos aspectos anti-inflamatórios em tecidos como hepático, muscular e adiposo. Como esse efeito parece ter relação intima com o sistema imune, e sendo o intestino o local de maior atividade desse sistema, parece razoável não negligenciar o efeito exercício nesse tecido. A atividade do sistema imune está intimamente ligada à integridade da sua microbiota, em eubiose. Reforçando essa ideia, tanto obesos quanto diabéticos apresentam microbiota em disbiose, ou seja, em desequilíbrio, normalmente associada com perda da integridade da barreira intestinal, resultando assim em aumento da captação de calorias e infiltração microrganismos na corrente sanguínea. Assim, recentemente, estudos vêm demonstrando efeitos do exercício na microbiota. Um estudo pioneiro nessa área mostrou que o exercício voluntário promovia alterações na microbiota de ratos, com especial destaque para cepas produtoras de butirato. Em consonância com isso, houve também significativo aumento da concentração de butirato, um ácido graxo de cadeia curta que vem sendo associado a efeitos positivos como redução no tempo de transito intestinal e aumento na integridade da barreira intestinal. Estudos subsequentes confirmaram a existência de efeito do exercício em modular a microbiota, o que parece resultar em manutenção do peso e do metabolismo da glicose. Esse efeito parece ser mais pronunciado na infância devido, entre outras coisas, a grande instabilidade da microbiota nesse período. Assim, parece que níveis elevados de atividade física nos primeiros anos pode resultar em uma microbiota que irá ajudar o individuo ao longo da vida em manter o peso corporal, ter um sistema imune fortalecido e possivelmente a ter mais desempenho em exercício. Nesse contexto, animais germ-free apresentam fadiga precocemente quando comparados com animais com microbiota intacta. De forma mais especifica, esse efeito parece ter relação com um sistema antioxidante mais eficiente. Confirmando esse efeito, outro estudo relatou que a diversidade da microbiota apresenta relação positiva com o VO2máx em sujeitos saudáveis. Assim, levando todos esses resultados em conjunto podemos dizer que o exercício melhora a integridade da barreira intestinal e ajuda no combate a doenças crônicas. Além disso, a infância parece ser o melhor momento para fazer atividade física e desenvolver uma microbiota benéfica. E por último a presença de uma microbiota rica em diversidade pode interferir no desempenho esportivo.
Autor: Prof. Dr. Alexandre G. de Oliveira