Residentes

 

Desde março, com a chegada da pandemia de Covid-19, os residentes do programa Medicina do Trabalho da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp estão contribuindo com os cuidados dos trabalhadores da saúde da Universidade. Uma parceria entre a Área de Saúde do Trabalhador do Departamento de Saúde Coletiva (AST/DSC) da FCM e o Centro de Saúde e Comunidade (Cecom) viabilizou uma nova frente de estágio para os médicos residentes.

Caso apresente sintomas como dor de garganta, tosse, falta de ar ou febre, o trabalhador é atendido no serviço e, quando indicado, tem o material biológico coletado para exame diagnóstico. A partir das avaliações clínicas, os trabalhadores são orientados sobre cuidados gerais com a saúde, as medidas de proteção em casa e no trabalho, e a necessidade de afastamentos ou adaptações no trabalho.

“Esse é um esforço conjunto para oferecer atendimento especializado para trabalhadores da saúde, com suspeita da doença”, disse Sergio de Lucca, médico do trabalho e professor do Departamento de Saúde Coletiva da FCM.

Além do atendimento clínico, a AST/DSC desenvolveu em parceria com outras universidades a pesquisa Avaliação de Risco de Trabalhadores da Saúde no Contexto da Covid-19. De acordo com a médica Marcia Bandini, orientadora do programa de residência médica em Medicina do Trabalho da FCM e responsável pela pesquisa, a avaliação é um canal de escuta para os trabalhadores, sistematizando a coleta de informações sobre as condições de uso, reuso, guarda e higienização de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), a percepção da qualidade dos treinamentos, as técnicas aplicadas de paramentação e desparamentação, e as mudanças na organização do trabalho que possam afetar a rotina de trabalho desses profissionais.

“Estamos acompanhando os impactos da Covid-19 para a saúde dos trabalhadores desde os primeiros casos no exterior. A partir de um risk assessment desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de nossas observações de campo e de entrevistas com trabalhadores da Unicamp desenvolvemos uma Avaliação de Risco adaptada para nosso contexto, a partir do qual podemos identificar onde é necessário reforçar as medidas de proteção para que, por exemplo, um EPI não se transforme em um veículo de contaminação ao invés de proteger o trabalhador”, explica Márcia.

Sergio de Lucca destaca, também, o caráter voluntário de participação dos trabalhadores na Avaliação de Risco e reforça os impactos das mudanças nos fatores psicossociais relacionados ao trabalho. “Temos mais de 150 trabalhadores que responderam nossa pesquisa e o número aumenta a cada dia. Ainda estamos analisando os dados, mas já é possível perceber o grande impacto que as mudanças organizacionais trouxeram para os trabalhadores, exigindo novos aprendizados e novas rotinas, muitas vezes com redução da autonomia e do número de profissionais nas equipes”, ressalta Sergio.

Percepções e aprendizado

Seis médicos residentes se revezam nos atendimentos no Cecom. Segundo William Prado, “trabalhar no Cecom demonstrou a importância no cuidado dos profissionais que atendem na linha de frente, pois quem acolhe também precisa ser acolhido”. João Pedro Greggo diz que a experiência tem sido muito interessante, pois o Cecom é muito bem estruturado e organizado, com profissionais acolhedores e bem capacitados. “Pude ver que a Medicina do Trabalho trouxe boas contribuições logo no início, com a revisão dos fluxos de atendimento e redução da exposição dos funcionários do Cecom a aerossóis”, diz João.

A médica residente Lorena de Paula Vasconcellos ressalta o cuidado do programa com os residentes, ao mesmo tempo em que procura contribuir para o desafiador cenário da pandemia. “Esta experiência tem sido muito gratificante porque estamos fazendo avaliações de risco para contribuir com ações de combate à pandemia na Unicamp e, ao mesmo tempo, desenvolvendo novas habilidades como médicos do trabalho”.

“Agradecemos a toda a equipe do Cecom e especialmente a coordenadora do Centro, Patrícia Leme. Esperamos que parcerias como essa venham para ficar. A AST/DSC está vigilante e atenta para que todos os trabalhadores, independente do vínculo, estejam sob os mesmos cuidados”, reforça Marcia.

Recentemente, o Departamento de Saúde Coletiva da FCM se manifestou sobre o tema, por meio de nota que pode ser lida na íntegra aqui

Autor

Edimilson Montalti

Trajetória

Jornalista científico e assessor de imprensa da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.

 

 

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